06 agosto, 2010

DE CADEIA!

Como já falei no texto de introdução postado aqui, este trabalho trata de tatuagens carcerárias, aquelas feitas em presídios, feitas toscamente. E é sobre esse universo que juntei algumas referencias, matérias e pesquisas e preparei um pequeno texto:


Desde os registros mais antigos de gravações no corpo humano (datados de cinco mil anos), passando pela patente de Samuel O’Reily da máquina elétrica de tatuar em 1891, até os dias de hoje, a tatuagem cresceu muito tecnicamente. Já foi feita tanto com espinha de peixe e tinta extraída de polvo, como com agulhas de aço e máquinas movidas a ar comprimido. Mas seu princípio de perfurar a pele, deixando uma marca indelével permanece o mesmo.

Assim como a gravura, que surgiu como técnica de reprodução e multiplicação de imagens e só tempos depois ocupou o mesmo espaço dado a técnicas como a pintura, o desenho e a escultura, a tatuagem contemporânea também ganhou o status de Arte.

Mas o que me desperta interesse, e é onde meu trabalho busca referência, não são as tatuagens contemporâneas feitas em ateliês e estúdios modernos (ou em programas de TV!). O campo onde estudo é o ambiente marginal das chamadas tatuagens de cadeia, que constituem um código fechado, feito para ser interpretado por iniciados ao universo da criminalidade (ou curiosos que procurarem bastante...).

Aqui no Brasil, já nos anos 20, as pesquisas do psiquiatra Moraes Mello, que trabalhou na Casa de Detenção (Carandiru) em São Paulo, registraram e analisaram mais de três mil diferentes marcas nos corpos dos detentos paulistas, e começavam a decifrar tais códigos. Além dos motivos estéticos e resultado do ócio nos tempos de privação de liberdade, as tatuagens carcerárias pesquisadas apontaram para traços da personalidade do criminoso, mostrando tanto as especialidades do detento no mundo do crime, quanto os seus amores e preferências sexuais.

Pontos tatuados no dorso da mão entre o indicador e o polegar podem mostrar, por exemplo, quais delitos o portador é tendencioso. Um ponto para batedores de carteira, dois para estupradores, três para traficantes, quatro e cinco para ladrões. E dependendo da localização é possível saber a posição hierárquica do indivíduo perante a quadrilha, como mostra quadro criado pela Escola de Administração Penitenciária de São Paulo. Corações atravessados por uma flecha e com a inscrição “Amor de Mãe” eram usados por homossexuais passivos, já a imagem de um crânio atravessado por um punhal designava os matadores de policiais.

Estes são apenas alguns exemplos dos resultados da pesquisa, mas que hoje em dia não podem ser tomados ao pé da letra. “Não acredito que os presos de hoje em dia saibam o que significam as imagens gravadas em seus corpos. (...) Essa coisa da tatuagem ter um significado é coisa do passado.” diz o médico Dráuzio Varella em reportagem de Giuliano Cedroni, na Revista TRIP, sobre o trabalho de Moraes Mello.








Alem dos registros do Carandiru, outros dois grupos fazem parte das referencias visuais: as Maras, e os Vory. Mas estes são assuntos pra outros posts...






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